Descubra como as empresas que adotam esse modelo reduzem acidentes, aumentam a produtividade e criam um ambiente onde a segurança é responsabilidade de todos, não apenas do SESMT.
OHSAS 18001: O Sistema de Gestão que Está Revolucionando a Segurança no Trabalho no Brasil
Em um cenário empresarial cada vez mais competitivo, onde a eficiência e a produtividade são constantemente medidas, um ativo intangível vem se mostrando decisivo para o sucesso sustentável das organizações: a segurança e saúde dos colaboradores. Não se trata mais apenas de cumprir legislação ou evitar multas. Trata-se de criar um ecossistema onde as pessoas possam trabalhar com dignidade, protegidas de riscos previsíveis e capacitadas para agir diante de imprevistos.
É nesse contexto que o Sistema de Gestão de Segurança e Saúde Ocupacional (SGS), com base na OHSAS 18001, ganha espaço não como mais uma burocracia, mas como uma ferramenta estratégica. Este artigo, baseado em um Diálogo de Segurança especializado, vai desvendar como essa especificação, reconhecida internacionalmente desde 2001, está transformando a cultura das empresas e por que ela é considerada o padrão-ouro na gestão da segurança do trabalho.
O Que é a OHSAS 18001 e Por Que Ela é um Marco?
A OHSAS 18001 (Occupational Health and Safety Assessment Series) é uma especificação criada para fornecer às organizações um framework para gerenciar seus riscos de Saúde e Segurança Ocupacional (SSO). Diferente de uma simples lista de verificação, ela estabelece um sistema de gestão integrado e contínuo.
Pense nela como o “sistema imunológico” da empresa. Assim como nosso corpo possui mecanismos para identificar e combater ameaças, o sistema baseado na OHSAS 18001 cria processos para identificar perigos, avaliar riscos e implementar controles para mantê-los sob gestão. Ele não espera o acidente acontecer; ele trabalha ativamente para evitá-lo.
O Compromisso é de Todos: Do Estagiário ao Presidente
Um dos pilares mais revolucionários deste sistema é a quebra do paradigma de que a segurança é responsabilidade exclusiva do SESMT (Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho). O documento é enfático: “Todos colaboradores estão envolvidos nesse processo”.
A participação de cada um é medida por ações concretas:
- Conhecer e Praticar a Política: Não basta a empresa ter uma política de segurança bonita emoldurada na parede. Cada colaborador precisa entendê-la e incorporá-la no seu dia a dia.
- Antecipar Riscos: O funcionário deixa de ser um mero executor para se tornar um agente ativo na identificação de perigos. Aquele fio desencapado, o piso escorregadio ou o empilhamento inseguro devem ser comunicados e resolvidos.
- Usar os EPIs: O uso do equipamento de proteção deixa de ser uma imposição e passa a ser uma consequência lógica do entendimento dos riscos.
- Comunicar Eventos: Relatar um “quase acidente” ou uma condição abaixo do padrão não é “arranjar confusão”; é contribuir para a melhoria contínua de todo o sistema.
- Buscar a Melhoria Contínua: A segurança nunca está “pronta”. É um processo de evolução constante, onde todos são convidados a pensar em como fazer melhor e com mais segurança.
As Funções do Sistema: Ação Pró-ativa e Reativa
O sistema se sustenta em duas pernas: a antecipação e o reconhecimento.
- Avaliação e Antecipação de Riscos (Ação Pró-ativa): Esta é a essência da prevenção. A empresa age antes que o problema acontece. Conceitos preventivos são aplicados desde a concepção de um projeto ou no desenvolvimento de um novo padrão operacional. A Análise Preliminar de Riscos (APR) é uma ferramenta chave aqui, utilizada para planejar tarefas não rotineiras, mapeando cada perigo antes mesmo de a atividade começar.
- Reconhecimento de Riscos (Ação Reativa): Mesmo com toda a antecipação, riscos não previstos podem surgir. O sistema possui mecanismos para identificar essas “Condições Abaixo do Padrão” que já existem no ambiente, corrigindo-as antes que gerem um acidente.
Os Pilares que Sustentam o Sistema: Uma Visão Prática
O modelo de gestão descrito no documento é complexo e se desdobra em subsistemas especializados:
- Gestão de Controle de Perdas (GCP): É o canal oficial para comunicar e gerenciar qualquer evento anormal – de um incidente sem lesão a um acidente grave. É a memória da empresa em termos de segurança, permitindo aprender com os erros.
- Gestão da Legislação: Garante que a empresa não apenas cumpra, mas esteja sempre atualizada com todas as obrigações legais federais, estaduais e municipais.
- Controle Operacional: É a implementação prática no chão de fábrica. Estrutura os processos para garantir que os riscos identificados estão sendo efetivamente controlados.
- Preparo para Emergências: Vai além do combate a incêndio. Prepara as equipes para situações críticas específicas, como resgate em altura, acidentes com eletricidade e mal súbito. A eficiência na emergência é resultado do treinamento na normalidade.
- Treinamento Contínuo: Identifica as lacunas de conhecimento e habilidades para cada função e as supre com treinamentos, reciclagens e formações específicas, como a de brigadistas.
- Documentação e Estrutura: Organiza a empresa definindo responsabilidades, padronizando procedimentos e garantindo que todos sabem “o que, como e por que” fazer.
Conclusão: Mais que uma Certificação, uma Transformação Cultural
Implementar um Sistema de Gestão baseado na OHSAS 18001 não é um simples projeto para obter um selo na parede. É uma jornada de transformação cultural. É migrar de uma mentalidade reativa (“agimos depois do acidente”) para uma mentalidade pró-ativa (“agimos para evitar o acidente”).
As empresas que abraçam esse modelo colhem frutos que vão muito além da redução de acidentes. Elas experimentam:
- Aumento da Produtividade: Ambientes seguros são, por natureza, mais organizados e eficientes.
- Melhoria do Clima Organizacional: Colaboradores que se sentem cuidados são mais engajados e leais.
- Redução de Custos: Menos afastamentos, menos indenizações, menos danos a equipamentos.
- Fortalecimento da Marca Empregadora: Atraem e retêm os melhores talentos.
Investir em um sistema robusto de segurança, portanto, não é um custo operacional. É um investimento estratégico no capital humano, no patrimônio mais valioso de qualquer organização. No final, a OHSAS 18001 não trata apenas de evitar o que é ruim; trata de construir o que é bom, sólido e sustentável. Porque uma empresa verdadeiramente segura é, inevitavelmente, uma empresa de sucesso.