Pressa e excesso de confiança são as principais causas de acidentes graves, muitas vezes fatais, durante o trabalho com corte e poda árvores. Descubra os protocolos essenciais que vão desde a autorização legal até as técnicas que salvam vidas.
Corte e Poda de Árvores: O Guia Completo de Segurança que Toda Empresa e Profissional Precisam Ler
A imagem de um podador de árvores, serra em punho, trabalhando na copa de uma grande árvore pode até parecer uma cena comum, mas esconde uma das atividades profissionais de maior risco. A poda ou a supressão (corte) de árvores é uma operação que exige muito mais do que força e coragem; exige conhecimento técnico, planejamento meticuloso e um respeito absoluto pelas normas de segurança. Atrás de cada galho cortado, há uma cadeia de decisões que pode terminar em um trabalho bem executado e seguro, ou em um acidente trágico.
Este artigo, baseado em um Diálogo de Segurança dedicado ao tema, foi elaborado para ser um guia de referência. Nosso objetivo é orientar proprietários, gestores de obras, jardineiros e profissionais da área sobre os procedimentos críticos que não podem ser ignorados. Aqui, desmistificamos a falsa ideia de que “experiência” dispensa protocolos e mostramos que a segurança neste ofício é um processo contínuo e não negociável.
O Primeiro Passo: A Legitimidade Antes do Primeiro Corte
Antes de qualquer coisa, é crucial entender que a derrubada de uma árvore não é uma decisão arbitrária. Cortar uma árvore sem a devida autorização do órgão ambiental competente (seja federal, estadual ou municipal) constitui um crime ambiental. Este é o passo zero, inegociável. A supressão vegetal deve ser sempre a última alternativa, considerada apenas quando a árvore representa um perigo iminente ou quando não há outra solução viável para um projeto de infraestrutura, por exemplo.
Além da licença, a atividade deve ser executada por um profissional habilitado e capacitado. Operar uma motosserra, por exemplo, requer treinamento específico. Não se trata apenas de ligar o equipamento, mas de entender sobre tensão da madeira, técnicas de corte e, principalmente, como agir em situações de emergência.
Os Inimigos Ocultos: Pressa e Excesso de Confiança
O documento de segurança alerta para duas “desculpas clássicas” extremamente perigosas: a pressa e o excesso de confiança. Muitos acidentes ocorrem com trabalhadores experientes que, por realizarem a tarefa diariamente, começam a negligenciar os protocolos básicos. É vital lembrar que cada árvore é única e cada ambiente apresenta riscos diferentes. Uma árvore que parece saudável pode ter podridão interna; um galho pode estar sob tensão inesperada; ventos podem mudar de direção subitamente.
Planejamento e Técnica: A Chave para a Queda Controlada
Quando a derrubada é a única solução, o planejamento é a etapa mais importante.
- Análise do Ambiente: Deve-se observar atentamente a direção do vento, a inclinação natural da árvore e a existência de obstáculos no entorno, como fiações elétricas, edificações, vias públicas e outras árvores.
- Uso de Cordas e Guinchos: A parte superior do tronco deve ser amarrada com cordas robustas antes do início do corte. Essa medida não é opcional; é uma garantia. As cordas, manuseadas por uma equipe auxiliar posicionada em local seguro, servem para guiar a direção da queda e desviar a árvore de obstáculos. Para árvores de grande porte, o uso de motones (polias) ou guinchos é altamente recomendado para fornecer a força necessária para um controle efetivo.
O Perigo Invisível: A Proximidade com a Rede Elétrica
Este é, talvez, o ponto de maior alerta. Trabalhar com árvores próximas à rede elétrica é uma das situações de mais alto risco.
- A Regra de Ouro: A poda de galhos ou o corte de árvores que estejam próximos ou em contato com circuitos energizados devem ser executados com o circuito desligado e aterrado. Isso elimina o risco de choque elétrico.
- Quando não é Possível Desligar: Em situações onde o desligamento do circuito não for viável, o trabalho deve ser realizado exclusivamente pela equipe especializada em “linha viva”. Estes profissionais possuem equipamentos, treinamento e técnicas específicas para trabalhar com a rede energizada. Tentar fazer isso sem a qualificação adequada é um convite à eletrocução.
Os Equipamentos que São sua Segunda Pele: EPIs Indispensáveis
Nenhum profissional deve sequer se aproximar de uma atividade de poda ou corte sem a correta proteção. Os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) são uma barreira física entre o trabalhador e os inúmeros riscos.
A lista essencial inclui:
- Cinto de Segurança Tipo Paraquedista: Para trabalho em altura, permitindo a ancoragem em galhos robustos.
- Capacete de Segurança: Fundamental para proteger a cabeça da queda de galhos e objetos. Se for usar motosserra, o capacete deve ter viseira de proteção facial.
- Luvas de Couro: Para proteger as mãos de farpas, cortes e queimaduras por atrito.
- Luvas Isolantes (em caso de risco elétrico): Usadas sob as luvas de couro quando houver qualquer possibilidade de contato com a rede elétrica.
- Calçado de Segurança: Com biqueira de aço para proteger os pés de quedas de ferramentas e galhos.
- Óculos de Segurança: Imprescindível para proteger os olhos da projeção de gravetos, serragem, poeira e outros detritos.
Ferramentas Adequadas e Cuidados na Subida e Descida
A escolha da ferramenta correta é parte da segurança. Deve-se usar serra de dentes altos, bastão podador, serra circular hidráulica ou motosserra apropriada para o tamanho do trabalho. O uso de ferramentas improvisadas é estritamente proibido.
Para subir na árvore:
- Use uma escada de tamanho apropriado, sempre amarrada de forma segura na base e no topo, ou segura por um colega.
- Escolha um galho resistente para o primeiro apoio.
- Verifique a presença de insetos! Abelhas e outros insetos podem causar acidentes graves. Uma inspeção visual prévia é crucial.
Para a descida:
- Nunca pule da árvore. Use a escada com a mesma cautela da subida.
- Galhos maiores devem ser cortados em pedaços menores e baixados com o auxílio de cordas, de forma controlada.
- O colaborador que está no solo, responsável por controlar as cordas, deve se posicionar em área segura, longe da zona de queda direta, para não ser atingido e para evitar movimentos bruscos que possam causar uma queda.
Conclusão: Segurança é um Compromisso Coletivo
O corte e a poda de árvores são atividades que demandam um equilíbrio entre técnica, respeito ao meio ambiente e, acima de tudo, preservação da vida humana. Ignorar qualquer um desses pilares pode levar a consequências irreparáveis.
Investir em treinamento, utilizar os EPIs corretos, seguir os protocolos legais e técnicos e promover um ambiente onde a segurança seja priorizada sobre a velocidade não são custos, são investimentos. São a garantia de que todos os envolvidos, do podador no topo da árvore ao auxiliar no solo, retornarão para suas famílias em segurança. No fim do dia, uma árvore pode ser substituída; uma vida, não.